A sétima Carteira Trimestral Recomendada pelo Método GRIFO não foi nada fácil de se montar. Com a sexta composição, voltamos a superar a meta preestabelecida de superação do Ibovespa, o que nos deixaria confortáveis para seguir com o método inalterado para a sétima composição. No entanto, observou-se uma grande piora dos números da economia, e principalmente, a de um deles que influencia bastante os parâmetros escolhidos para os indicadores que o Método GRIFO utiliza: a taxa básica de juros Selic.
A Selic funciona no método como uma TMA (Taxa Mínima de Atratividade). Ou seja, se é esperado para aquela determinada empresa, uma lucratividade menor que a TMA, em vez de comprar suas ações, eu opto por outro investimento, que ultimamente tem sido o Tesouro Direto.
Após fazer os ajustes de praxe nos parâmetros dos filtros de indicadores fundamentalistas do Método GRIFO, rodei a simulação e, para minha surpresa, a carteira ficou composta por apenas quatorze ativos, sendo treze deles de apenas dois setores da economia: Construção e Engenharia e Financeiro.
Eu não sou partidário da ideia de que se tem que fazer grande diversificação. Acredito que se você sabe o que está fazendo e tem segurança quanto aos riscos que corre, você pode sim concentrar os ovos numa única cesta. No entanto, em se tratando do momento que vive a economia e também do meu próprio método de investimento, já que o Método GRIFO faz basicamente uma análise de múltiplos fundamentalistas, sem adentrar profundamente no estudo das empresas selecionadas, eu não tenho toda essa segurança para uma diversificação tão pequena.
Daí, tomei a decisão de modificar novamente o Método GRIFO. E a modificação foi a seguinte: a Carteira Trimestral Recomendada pelo Método GRIFO terá, a partir desta sétima composição, sempre ações de vinte empresas. Farei isso de duas formas. Quando o número de empresas selecionadas nos filtros originais superarem vinte, eu farei sua ordenação, ainda de acordo com o método original, e selecionarei as vinte melhores a partir desse ranking. Até aí, nenhuma mudança. Mas já quando o número de empresas for inferior a vinte, como foi o caso deste trimestre, irei aliviando os critérios utilizados até que o número de empresas encontrado seja igual a vinte.
Isso foi feito já para a seleção deste trimestre. Para se chegar no número de vinte empresas, precisei aliviar os critérios originais em 7%. Ainda assim, em termos de setorização da economia, não tivemos grandes alterações, e a Carteira Recomendada continuou muito concentrada nos setores de Construção e Engenharia e Financeiro, onde as empresas ainda apresentam maior desvalorização. No entanto, não fizemos novas alterações e deixamos dessa forma. Em todas as composições anteriores esses setores já eram dominantes e o resultado tem sido muito bom até agora, com uma valorização média mensal de 1,91%, enquanto no mesmo período o Ibovespa tem desvalorizado 0,21% ao mês, em média.
Com tudo isso, foram feitas somente três alterações em relação a composição da carteira do trimestre anterior. As três ações que se despediram da Carteira Trimestral foram a Companhia Paranaense de Energia – Copel (CPLE3), a Kepler Weber (KEPL3) e a Petrobras (PETR4). Todas empresas que nos deram alegrias no trimestre anterior, principalmente a Kepler Weber (KEPL3), que proporcionou uma despedida particularmente difícil para mim. As três empresas que chegaram para compor a nova Carteira Recomendada pelo Método GRIFO foram a Autometal (AUTM3), o Paraná Banco (PRBC4) e a Santos Brasil Participações (STBP11). Dessas três, somente a Santos Brasil Participações (STBP11) nunca havia aparecido numa composição anterior.
Vamos explicitar os motivos para a saída de três empresas que apresentaram excelentes resultados no trimestre anterior.
A Copel (CPLE3), apesar de ter seu Rating Nacional afirmado pela Fitch em AA+(bra), com perspectiva estável e de ter apresentado à ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica) um plano de ação que visa fundamentar o reequilíbrio financeiro e a sustentabilidade econômica da concessão do segmento de Distribuição, contemplando redução de custos proveniente de um programa de demissão voluntária e de reestruturação com extinção de 60% dos postos gerenciais, apresentou piora pelo terceiro trimestre consecutivo em sua capacidade de pagamento de curto prazo, medida pela liquidez corrente (Ativo Circulante/Passivo Circulante). Essa relação do Balanço da Copel se deteriorou principalmente em razão da diminuição em sua linha de Contas a Receber (queda de 20% nos últimos seis meses) e do aumento em sua linha de Obrigações Fiscais (aumento de 45% em seis meses) e na linha de Empréstimos e Financiamentos, esta última com aumento de 60% somente no últimos trimestre, fruto dos novos investimentos da companhia. Mas essa conta vem aumentando significativamente no último ano e meio. Com isso, a empresa acabou barrada neste filtro.
A Kepler Weber (KEPL3) teve uma emocionante despedida da nossa carteira, após ter tido uma valorização de 88,2% em um único trimestre. É a ação que mais me deu alegrias. Nos três trimestres em que esteve compondo a nossa Carteira Recomendada de ações ela valorizou-se 242%! Ela responde sozinha por cerca de um quarto de todo o lucro que eu tive com o Método GRIFO desde o início desde blog em junho de 2012, sendo a ação que mais se valorizou em todos os três trimestres dos quais fez parte de nossas carteiras. Com um histórico desses, não tinha como não se apegar a este papel. E eu me apeguei. E por isso sofri tanto ao ter que vendê-lo. A razão da venda é óbvia: o preço! Tinha calculado um “preço justo” para a ação da Kepler Weber de R$ 28,70. Acontece que essa marca foi deixada rapidamente para trás em meados de novembro e, ao fim do mês, a ação já estava precificada acima de R$ 42,00. Com isso, ela estourou todas as barreiras que o Método GRIFO impõe ao preço das ações, principalmente, as relações P/L e P/VP. Assim, coloquei esse lucro no bolso e me despedi com uma lágrima nos olhos da Kepler Weber (KEPL3).
Por último, a gigante petrolífera, Petrobras (PETR4). Eu tenho um carinho todo especial por esta empresa, já que sou um de seus empregados, no entanto, como esse foi o trimestre do desapego, também liquidei minha posição aqui. A razão principal foi a diminuição persistente das taxas de retorno obtidas pela empresa ao longo dos últimos anos. O Método GRIFO observa dois bons indicadores fundamentalistas que medem a taxa de retorno de uma empresa, que são o ROIC e o ROE. O primeiro (ROIC) mede a taxa do retorno obtido pela empresa em relação ao seu capital total aplicado, já o segundo (ROE) mede a taxa do retorno com a relação entre o Lucro Líquido e o Patrimônio Líquido da empresa. Fiz estudos utilizando os dados de balanço da Petrobras dos últimos sete anos e percebi que essas duas taxas são firmemente decrescentes ao longo desse período. O Lucro Líquido da companhia manteve-se ao longo desses anos, boa parte do tempo entre 25 e 30 bilhões de reais, oscilando com alguns picos por volta dos R$ 40 bilhões e vales por volta dos R$ 20 bilhões. Já seu lucro operacional, medido pelo EBIT (Earning Before Interest and Taxes), oscila sempre por volta dos 50 bilhões de reais, chegando a R$ 60 bilhões em alguns períodos. No entanto, para se gerar esses montantes de lucro, ao longo desses sete anos foi necessário o emprego de cada vez mais capital e patrimônio. O Patrimônio Líquido da Petrobras era de 96 bilhões de reais no 3T06, e é de 341 bilhões de reais no 3T13. O capital total investido passou de 166 bilhões de reais no 3T06 para 676 bilhões de reais no 3T13. Com a deterioração desses indicadores, a Petrobras (PETR4) acabou ficando de fora dos filtros e, consequentemente, da nossa Carteira Recomendada. Para uma melhor visualização da diminuição do ROIC e ROE da Petrobras ao longo desses sete anos, elaborei o gráfico que segue:
Agora vamos às entrantes, começando pela Autometal (AUTM3). Esta empresa, que é uma das principais fornecedoras de componentes e subconjuntos do setor automotivo, já fez parte de uma de nossas Carteiras Trimestrais, a primeira delas, do período Jun/Jul/Ago de 2012. A empresa terminou aquele trimestre com um desempenho excelente, valorização de 41,5%, após o que foi vendida por ter apresentado queda em sua receita pelo quarto trimestre consecutivo (considerando as somas dos quatro últimos trimestres). Ou seja, o preço explodiu, apesar da piora dos números da empresa. [Obs.: Esse negócio de vender as ações que subiram muito faz todo o sentido do mundo: comprar na baixa e vender na alta. Mas como é difícil!] A situação atual é o inverso daquela, a receita da empresa apresentou aumento no último ano e meio, os números vem melhorando, enquanto o preço está num patamar inferior àquele que a empresa tinha no fim de agosto de 2012, quando foi vendida.
A outra empresa que chega para compor a nova Carteira Trimestral também já deu as caras anteriormente: é o Paraná Banco (PRBC4). Ela foi parte da Carteira Recomendada do Trimestre de Jun/Jul/Ago de 2013 e deixou a carteira ainda apresentando bons fundamentos, apenas por razão de liquidez de seus papéis. A movimentação desse papiro na Bolsa de Valores de São Paulo fica no limiar do nosso filtro de liquidez, o que faz com que alterações no seu volume de negociação de um trimestre para o outro possam tirar ou colocar o ativo em nossa carteira. Nesse caso ainda demos sorte, pois apesar do último trimestre ter sido de alta para a maior parte das ações, encontramos o Paraná Banco (PRBC4) no mesmo patamar de preços em que o havíamos deixado três meses atrás.
Por último, a empresa que é a verdadeira estreante em nossas Carteiras Recomendadas pelo Método GRIFO, a Santos Brasil Participações (STBP11). A companhia é a maior operadora de contêineres do Brasil, está presente em três portos brasileiros (Santos – SP, Imbituba – SC e Barcarena – PA) e atende a todas as etapas da cadeia logística (da movimentação portuária à armazenagem, transporte e distribuição). Esta empresa vem mostrando indicadores fundamentalistas crescentes, enquanto a cotação de suas ações vem sofrendo terrivelmente, caindo 25% somente nos últimos dois meses. Assim, enxergamos uma boa oportunidade de entrar neste papel.
Finalmente, apresentamos a sétima Carteira Trimestral Recomendada pelo Método GRIFO, para os meses de dezembro de 2013 e janeiro e fevereiro de 2014:
A relação P/L média da nova Carteira Recomendada subiu um pouco, de 8,0 para 8,6, fruto até mesmo da alta dos preços das ações no trimestre anterior. Já o P/L médio do Ibovespa, apesar da alta, caiu, de 15,3 para 15,0. Com isso, a margem do nosso P/L em relação ao P/L do Ibovespa diminuiu um pouco, mas ainda é uma boa margem. Já a nossa “margem de segurança” em relação a Taxa de Juros Básica da Economia, despencou para apenas 17% com as sucessivas altas da Taxa Selic. Esse é o trimestre onde a nossa Carteira Recomendada apresenta a menor “margem de segurança” em relação à Selic de todas as sete composições até agora.
Quanto a diversificação da carteira, ela diminuiu mesmo com a manutenção de vinte empresas. O número de setores representados caiu de nove para oito (saída dos representantes dos setores de Energia Elétrica, Máquinas e Equipamentos e Petróleo, Gás e Biocombustíveis para a entrada de representantes dos setores de Material de Transporte – Rodoviário e de Transporte – Apoio Logístico e Armazenagem). A concentração dos setores de Construção e Engenharia e Financeiro também aumentou, de 65% para 70% da carteira.
O setor de Construção e Engenharia se mantém com 40%, sendo o mais importante da carteira, mas o setor Financeiro teve sua participação aumentada de 25% para 30%, com a entrada do Paraná Banco (PRBC4). Todos os outros seis setores têm apenas um representante na carteira e, portanto, 5% de participação.
Segue o gráfico com as concentrações setoriais:
Para encerrar, e para fins de registro para futuros estudos e lições aprendidas, os seis papéis que só ficaram na Carteira Recomendada do Trimestre por ocasião do alívio de 7% nos filtros dos indicadores foram: Autometal (AUTM3), CSN (CSNA3), Duratex (DTEX3), Rodobens Negócios Imobiliários (RDNI3), Saraiva Livreiros Editores (SLED4) e Santos Brasil Participações (STBP11).